sábado, 29 de janeiro de 2011

Testemunho de Lourdes Guedes sobre amor

Casa reunida para o Natal. Homens com idade superior aos 16 anos conversando com o patriarca da família, meu avô. Mulheres com idade superior aos 18 anos dentro do primeiro quarto conversando futilidades e fofocas sobre as outras pessoas dos outros cômodos, e os demais sentados na cozinha ouvindo os ensinamentos da matriarca da família, minha avó.

Essa cena, ao contrário do que vocês devem estar pensando, não era comum na casa dos meus avós paternos e acredito que até um pouco raro de acontecer essa separação, portanto me chamou tanta atenção ao longo da vida minha. O episódio aconteceu quando eu tinha apenas 12 anos (lembro muito bem) e era o primeiro da fila para ouvir a minha sábia avó, dona Lourdes Guedes.

Logo no começo de nossa conversa, minha avó conta quantos netos estão sentados e verifica se está faltando algum. Parece que todos estão sentados. Então, como em uma forma de começar o diálogo ela arruma os cabelos, arruma a posição da cadeira, coloca um copo de água na mesa e começa a proferir seus belos ensinamentos.

Minha avó sempre foi aquele tipo de pessoa carinhosa, dedicada ao marido e a família. Mas isso não implica dizer em uma mulher submissa ou presa ao machismo da sociedade. Ela sempre usava conjuntos comportados. Nesse dia ela estava usando um conjunto branco com detalhes em azul claro. Cabelo solto, ela sempre usava assim. Ela era o exemplo de uma pessoa elegante sem precisar de vestidos e roupas caras.

Pronto, após dizer mais ou menos como minha vó estava podemos começar e reproduzir os seus ensinamentos.

Amor.

Para ela nenhuma história de amor verdadeiro tem fim. Quando duas almas gêmeas, feitas uma para a outra, se encontram ninguém ou nada pode separar. Você deve está pensando quanto romantismo e sentimentalismo do século XX ou do século XIX está presente nesse discurso, mas ela argumenta sua teoria.

Para ela sempre acreditamos que aquela pessoa que nos fez chorar no passado era o nosso amor idealizado como perfeito, no entanto, ele ou ela não era. O amor verdadeiro te acompanha para o resto da vida e muitas vezes não abrimos nossos olhos e deixamos apenas em amizade.

Mas por que ela acredita tanto nisso? Na época minha vó estava casada com meu avô a quase 60 anos (meu avô morreu no ano de 2006 e essa história aconteceu em 2002) e os dois teriam prometido que se amariam enquanto Deus permitisse e achasse que o amor deles enfrentaria todas as adversidades da vida. E o amor enfrentou.

No juramento dos 60 anos de casados dos meus avós, minha vó disse que não suportaria viver sem a presença do meu avô e ele afirmou que a recíproca era verdadeira. E no ano de sua morte, 4 anos após esse discurso, minha avó começou a apresentar um quadro de Mal de Alzeimer, esquecimento progressivo que atende o cerébro.

Na morte dele, minha avó não pôde comparecer ao enterro do meu avô. Todos os filhos acreditavam que seria a melhor forma de alimentar aquele amor que não tem fim. Nem mesmo com a morte. E eles estavam certos. Minha avó, após quase 5 anos, relembra do meu avô e jura amor a ele.

Em algumas noites, minha avó pergunta pelo seu amado e te dizem que ele está viajando e que deve voltar mais tarde. Ela deita tranquila na espera do seu amor. 5 minutos após ela já esqueceu da pergunta e dorme o seu sono tranquilo.

Falaram que é errado alimentar um amor assim. Pode parecer a primeira vista. Mas ela uma vez emuma de suas noites de sono teria dito "Te amo mundinho (como ela chamava meu avô)". E assim decidimos que deveríamos manter aceso o amor de tantos anos em sua mente.

Hoje a doença avançou e ela está mais fraca. Sua memória não faz lembrar o nome dos seus netos e agora com mais frequência dos seus filhos. Mas só tem um nome que ela não esquece - o de Raimundo Guedes, o amor da sua vida.

"Quando encontrar o amor da sua vida, Deus vai tocar o seu coração e dizer que a felicidade reside ao lado daquela pessoa e nada e nem ninguém vai poder separar" (Lourdes Guedes) e eu digo mais nem mesmo todas as doenças desse mundo e todas as suas maldades. Quando o amor é verdadeiro ele vive nos corações e tem a mesma batida.

Inspirado nesse amor verdadeiro peço para que vocês meus leitores amem de verdade. Se apaixonem de verdade. E quando chorarem por amor, lembre-se que o amor verdadeiro está te esperando lá na frente e você vai saber o que é amar.

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