domingo, 12 de fevereiro de 2012


Uma pequena parábola/crônica que meus pais me contavam quando era pequeno e que vale a leitura.

Os sinais não tão divinos assim

Em uma pequena cidade do interior onde os moradores eram bem religiosos aconteceu uma inundação nunca vista na cidade. Quase todos os moradores conseguiram fugir, exceto uma senhora chamada Maria das Graças que era conhecida como a mais religiosa da cidade, do tipo de devota que não largava o crucifixo e vivia para ensinar os outros a palavra de Deus. Nada contra, até o final dessa história.

Quando contaram para Maria da inundação que estava por vir, Maria sempre dizia a mesma "ladainha": "Deus proverá e afastará todos os males de mim" e recusava todos os convites para deixar a cidade e partir em segurança. Um por um, até não restar mais ninguém.

Convicta dos seus ideias e das suas crenças, Maria assistiu a inundação da cidade, pouco a pouco a água invadia as casas, as fazendas e a igreja. Tudo começava a desaparecer com uma rapidez impressionante. A nossa crente percebendo que estava em um local baixo tratou de subir em uma árvore para não ser "engolida" pelas águas do rio. E começava a rezar pedindo para que todas as suas rezas não fossem em vão e que Deus fizesse com que o rio retornasse o seu caminho e que assim a salvasse.

Entretanto, sem que o rio abaixasse ou muito menos retornasse ao seu leito normal, um bote do corpo de bombeiros apareceu e ofereceu ajuda a nossa religiosa que com um ato de bravura indômita disse que não poderia largar aquela provação. "Deus iria ajudá-la. Jamais a abandonaria". E mandou que eles fossem embora sem olhar para trás. "Ela estava segura com Deus". E depois de algumas tentativas, os homens da guarda foram embora entristecidos por não terem salvo aquela velha senhora.

E hora após hora, a maré voltou a subir. E com ela, o volume das orações e das promessas também aumentavam. O desespero e o medo começavam a bater, mas ela dizia que nada iria fazê-la desistir. Ela já estava no galho mais alto da árvore, o único que a maré ainda não tinha chegado.

E de repente, um helicoptero apareceu e dentro dele quatro homens vestidos com uniformes azuis acenavam para Maria das Graças. Estavam felizes por ter encontrado mais uma pessoa e com ela mais uma chance de reviver as esperanças de uma vida.

Eles jogaram uma escada de cabos e perguntavam se era necessário descer para ajudá-la, pois tinha que ser muito rápido por causa da enchente. Era a última ajuda, a última esperança, e ela com lágrima nos olhos disse que não. "Deus não a deixaria ali" e quase ao mesmo tempo foi engolida pelas águas negras do rio.

Após algum tempo, ao saber que tinha morrido naquele dia, afogada, chegou ao céu e foi reclamar
 por que ele tinha a abandonado e ele respondeu: "Os homens esperam milagres, mas não vêem as pequenas obras que faço em nome deles, pequenos sinais. Os homens querem ser encantados com espetáculos, mas eu dei olhos para ver coisas simples e serem encantados por essas. Vocês que esperam demais e nada fazem. Se tivessem pequenos olhos continuariam a procurar grandes coisas, e se tivessem grandes olhos nada não veriam as pequenas".

Moral da história: pare de esperar algo divino, Deus faz muita coisa por você todos os dias. Você que não percebe.

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